Há anos que não atualizava este blog. Me peguei pensando no quanto ter uma plataforma para escrever estava se fazendo essencial na minha vida, neste momento. Sempre escrevi e continuarei com esta prática, mas o mundo ''pós'' moderno nos impulsiona muito mais a mostrar o que fazemos. É inevitável.
De todo modo, não quero entrar nesse assunto. Não agora.
Escrevo este texto, depois de anos, diretamente na caixa de postagem do site. Li o primeiro item da minha publicação anterior, cujo tema é a série Gilmore Girls e me veio a cabeça algo a escrever imediatamente (aliás, dentro desses três anos que não publico aqui, a Amy Sherman-Palladino, autora da série, criou e lançou Um ano para Recordar, nova temporada tardia de GG). Eu dizia, no referido item sobre os motivos para assistir ao seriado, que meu foco era a personagem Rory. No meu momento atual (e não sei se o fato de estar mais perto dos 30 anos ajudou nisto), o pensamento foi o seguinte: como Rory? Não, a Lorelai, definitivamente, é meu foco visual ao assistir toda a série. E digo com propriedade: assisti novamente as Gilmore e me identifiquei, desta vez, em grande parte com a mãe!
Não pretendo entrar no nível narrativo, embora a personagem tenha frases e sacadas, além de atitudes com as quais eu me identifico. Mas acredito que o que mais me provocou visualizar Lorelai com maior profundidade, assim como eu fazia com a Rory quando adolescente, ou ainda enquanto estudante de graduação, foram as responsabilidades maiores que se apresentam para mim nesses últimos anos na casa dos 20.
Penso que a Lorelai tem um jeito incrível de lidar com a vida: foi mãe cedo e se responsabilizou totalmente pela vida de uma criança; optou pela sua liberdade acima da riqueza dos pais; e foi sempre em busca de uma vida melhor para ela e para Rory, indo atrás de seus sonhos mesmo quando talvez acreditava ser tarde demais: se formar em Administração e ter sua própria pousada.
E por que isso, de alguma forma, me ajudou tanto? Me fiz essa pergunta, claro. Afinal, eu tive uma vida muito mais Rory quando nova: adorava ler - e não fazia outra coisa quando adolescente- , entrei na faculdade e tive oportunidade de estudar quase que tranquilamente, e não tenho filhos ou maiores responsabilidades. Porém, a vida não é uma ficção, cuja história está pronta e depende de um roteirista que decide quem vai ser ou ter o quê. Desta forma, eu tive e tenho tantos problemas e inquietações quanto Lorelai tem.
Sinto como se estivesse no entremeio dessas duas personagens, permeada de sonhos urgentes e orgulhosa de minha trajetória como estudante, assim como Rory, mas também inquieta e mais angustiada diante da vida, e, por isso, optando por me libertar de muitos padrões sociais, como Lorelai. Acho mais incrível ainda pensar em Lorelai com esses paradoxos, pois ela é uma mulher completíssima: sofreu muito, buscava um amor sólido, se entristecia muitas vezes, mas compreendia que tudo fazia parte da vida, e conseguia, assim, olhar para os problemas do lado de fora, esperando que passassem, ao invés de se desesperar como eu fazia quando era mais imatura.
Acho que Lorelai me ensinou isso, a ser menos mimada e continuar seguindo em frente, ainda que com medo e dor.